Suspeito de mutilar 15 mulheres
no Amazonas faz parte do programa, e começa a prestar serviço hoje em Águas
Lindas (GO). Ministério diz que caso será investigado
O Ministério da Saúde selecionou
para o programa Mais Médicos um profissional suspeito de ter mutilado e causado
lesões corporais em pelo menos 15 mulheres em Manaus. Ex-deputado federal,
Carlos Jorge Cury Mansilla, 56 anos, começa a trabalhar hoje em um posto de
saúde no município de Águas Lindas de Goiás (GO).
Até o momento, foram concluídos
15 inquéritos policiais no Amazonas. Segundo o delegado Mariolino Brito, as
vítimas sofreram sequelas físicas e mentais, após passarem por procedimentos
cirúrgicos com Mansilla. O próprio médico assume não ter especialidade médica
em cirurgia. Entretanto, conta que trabalhou por 28 anos como cirurgião-geral
do Hospital Regional de Guajará-Mirim, em Rondônia, e já realizou cerca de 20
mil operações. “No interior do Norte, minha filha, nós somos especializados em
tudologia”, afirmou ontem ao Correio.
As pacientes procuraram o médico
para realizar cirurgias estéticas. Celiane Eduardo Santos foi uma das mulheres
que entraram na Justiça pedindo indenização de R$ 108.690 por danos causados em
uma cirurgia de redução das mamas. “Eu tive de realizar três procedimentos. No
primeiro, eu não fiquei com o tamanho do seio que tínhamos acertado. Tentamos
mais uma vez e não deu certo. Na última, ele já me atendeu muito mal e senti muita
dor na anestesia, que ele mesmo aplicou”, conta.
No fim de julho deste ano, o
Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas (Cremam) interditou o
registro de Mansilla. A partir daí, o médico ficou proibido de exercer a
profissão por seis meses em qualquer lugar do Brasil. “É um absurdo um
profissional realizar cirurgias sem que tenha especialização”, critica o
presidente do Cremam, Jefferson Jezini. O médico também está certificado em
Rondônia. Lá, Mansilla já havia sofrido suspensão da certidão por 30 dias, pois
contou com a ajuda de um anestesista sem registro no Conselho Regional de
Medicina (CRM) durante um procedimento.
Carlos Mansilla afirma que é
inocente. “Até hoje não existe um laudo que confirme as acusações.” Para o
médico, as mulheres fizeram denúncias, pois ficaram insatisfeitas com o
resultado. O delegado Mariolino Brito conta que a maioria das vítimas passou
por exames de delito e sofreram sequelas irreversíveis. “Algumas mulheres
chegaram a ser mutiladas. As vítimas sofreram lesões nos seios, abdômen,
barriga, bumbum”, detalha. Em janeiro deste ano, a polícia civil de Manaus
chegou a pedir a prisão preventiva de Mansilla, porém, com um salvo-conduto,
expedido pelo juiz da 8ª Vara Criminal, o médico escapou de ficar preso.
CHANCE
Segundo Mansilla, a decisão de se
inscrever no Mais Médicos foi para ter uma nova chance na profissão. O suspeito
alega perseguição de colegas e diz que nem chegou a ser ouvido pelo Cremam. “Eu
nunca vou deixar de ser médico. Por que eu não posso trabalhar sem CRM, se os
cubanos, paraguaios, bolivianos podem?”, reclamou. Cury também exerceu o cargo
de deputado federal, como suplente, pelo PPB (RO), entre 22 de abril e 8 de
setembro de 1999, e de secretário de Saúde de Guajará-Mirim, em abril do mesmo
ano.
De acordo com o Ministério da
Saúde, Mansilla se inscreveu no Programa Mais Médicos, porque um desses
cadastros está ativo junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM). A pasta
informou que fará uma consulta ao órgão e aos CRMs do Amazonas e de Rondônia solicitando
um parecer sobre a situação ética do médico. O CFM afirmou não ter sido
comunicado oficialmente sobre o caso e se colocou à disposição do Ministério da
Saúde para fornecer mais informações.
INSCRIÇÕES IRREGULARES
Chegaram a ser selecionados para
o Mais Médicos dois profissionais estrangeiros com problemas na Justiça. Um dos
casos é o de José Miguel Arregui Arata, que iria para Bonito (BA). Suspeito de
exercício ilegal de medicina, ele teria sido preso em 2005 na cidade de Angol,
no Chile. Outra situação é da médica Jelena Cvetkovic, acusada de tráfico
internacional de drogas. Os dois foram excluídos do programa.
Autor(es): DANIELA GARCIA e JULIA CHAIB
Correio Braziliense - 03/09/2013
Terça-feira 03 de agosto
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