Na espetaculosa
"faxina" que fez no início de seu governo para combater a corrupção,
a presidente Dilma Rousseff, pelo jeito, varreu só por onde o padre passa.
Investigações policiais levantaram o tapete e flagraram desvios de recursos
públicos para organizações não governamentais (ONGs), em escândalos cujo padrão
é o mesmo que, há não muito tempo, levou Dilma a arregaçar as mangas para
acabar com os "malfeitos", segundo dizia na época a propaganda
oficial.
Uma operação da PF acaba de
desmontar um esquema de fraudes no Ministério do Trabalho que resultou na
prisão de 22 pessoas. Outras 11 tiveram de prestar depoimento de forma
coercitiva - uma delas é Paulo Roberto dos Santos Pinto, o número dois do
Ministério. Tanto Pinto quanto o atual ministro, Manoel Dias, que é
secretário-geral do PDT, são ligados ao ex-ministro Carlos Lupi, um dos
demitidos por Dilma na tal "faxina".
A PF e a Controladoria-Geral da
União acreditam que o esquema tenha desviado até R$ 400 milhões, dinheiro
entregue a uma ONG chamada Instituto Mundial do Desenvolvimento e da Cidadania,
que diz prestar serviços de qualificação profissional e atua em 11 Estados e no
Distrito Federal. Pinto teria facilitado a atuação da entidade, segundo as
investigações. Apesar disso, ele continuava no cargo, até se exonerar no final
da tarde de ontem.
Dias antes, a PF havia prendido
oito pessoas suspeitas de participação em um esquema para favorecer outra ONG
de qualificação profissional, o Centro de Atendimento ao Trabalhador (Ceat) -
que já levou R$ 47,5 milhões do Ministério do Trabalho desde 2009.
Entre os presos está um assessor
do Ministério, Gleide Santos Costa, pego com R$ 30 mil que teriam sido pagos
pelo Ceat como suborno para facilitar o aditamento de um contrato com o
governo. Além disso, segundo a polícia, a direção do Ceat comprou mercadorias
chinesas para revender na Rua 25 de Março e, assim, lavar o dinheiro.
Ainda não foram encontrados elos
entre esses casos e o que derrubou Lupi em 2011, mas o novo episódio indica a
permanência de práticas que, se fosse sério o discurso de Dilma sobre a
"faxina", já deveriam ter sido abolidas no Ministério do Trabalho.
Em outro escândalo, um inquérito
da Polícia Civil do Distrito Federal mostrou que a Fundação Banco do Brasil,
controlada pelo PT, firmou convênios de R$ 36 milhões com ONGs ligadas ao
partido.
Um dos investigados é Jacques
Pena, petista do Distrito Federal. Segundo a polícia, Pena, quando presidiu a
Fundação Banco do Brasil, repassou ao menos R$ 5,2 milhões para uma certa
Associação de Desenvolvimento Sustentável do Brasil, que é dirigida por seu
irmão, Joy de Oliveira Pena, outro petista. Joy participa também da ONG Rede
Terra, de apoio à agricultura familiar, que já recebeu R$ 7,5 milhões da
fundação. A Rede Terra, por sua vez, é chefiada por Luiz Carlos Simion, irmão
de Vilmar Simion, chefe da ONG Programando o Futuro, de inclusão digital, que
recebeu repasses de R$ 4,9 milhões. Como se vê, o emaranhado de conexões
suspeitas é grande.
Esses tantos casos mostram que
não é apenas demitindo ministros - foram três defenestrados graças ao escândalo
das ONGs no passado - nem supostamente endurecendo as regras para os convênios
do governo com essas entidades que Dilma combaterá a praga da corrupção.
Fonte: O Estado de S.Paulo
Quarta-feira 11 de setembro
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