A rotina do ex-ministro e seus comparsas na prisão é bem diferente
daquela dos demais detentos.
Ninguém
em sã consciência pode imaginar que um criminoso condenado, privado
temporariamente da liberdade, cumprindo pena em uma cadeia povoada por milhares
de outros tipos de bandidos, leve uma boa vida.
No máximo, a vida pode ser um
pouco menos amarga. O homem que aparece na página anterior foi um dos mais
influentes parlamentares do Congresso, o ministro mais poderoso do governo Lula
e um dia alimentou o sonho de substituir o chefe no Palácio do Planalto.
Na
foto, José Dirceu de Oliveira e Silva, ex-presidente do PT, ex-chefe da Casa
Civil e condenado por liderar um dos maiores esquemas de corrupção da história
política do Brasil, é apenas o preso número 95 413 em uma cena que agora faz
parte da rotina dele e de outros mensaleiros. Num país em que a impunidade de
gente poderosa sempre foi uma tradição, a imagem tem um magnífico valor
simbólico.
Reforça que é possível colocar e manter corruptos influentes na
cadeia. Reforça que os ladrões de dinheiro público não estão acima da lei.
Reforça que as instituições democráticas funcionam apesar da pressão e da
tentativa recorrente de sabotá-las. A imagem, porém, também serve para advertir
que, apesar de tudo isso, a vigilância tem de ser permanente.
É
a primeira vez que o ex-ministro é mostrado dentro da penitenciária, num
ambiente que foi cuidadosamente preparado para recebê-lo. Para fugir da rotina
lúgubre do cárcere, José Dirceu, visivelmente mais magro, com os cabelos
aparados e usando roupa branca, como determina o regulamento do presídio, passa
a maior parte do dia no interior de uma biblioteca onde poucos detentos têm
autorização para entrar.
Lá, ele gasta o tempo em animadas conversas,
especialmente com seus companheiros do mensalão, e lê em ritmo frenético para
transformar os livros em redações, o que lhe pode garantir dias a menos na
cadeia.
O ex-ministro só interrompe as sessões de leitura para receber visitas,
muitas delas fora do horário regulamentar e sem registro oficial algum, e para
fazer suas refeições, especialmente preparadas para ele e os comparsas. Os
10 326 presos da Papuda recebem marmitas produzidas em escala industrial por
uma empresa prestadora de serviços.
Já os mensaleiros têm direito a um cardápio
próprio. O Brasil, como se sabe, também é a terra dos privilégios.
Rodrigo Rangel –
VEJA
Sábado, 15 de março,
2014.
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