Em reunião secreta, senadores
recebem enviados de José Dirceu e Delúbio Soares, que temem perder regalias
caso sejam enviados a presídios federais
Na última terça-feira, o Palácio
do Planalto passou o dia às voltas com sua base no Congresso Nacional em busca
de uma saída para levar à votação seu projeto número um no início deste ano: o
Marco Civil da Internet, que trava a pauta do Legislativo há meses. A
regulamentação da internet no país, no entanto, não foi o único assunto que
movimentou o Legislativo no mesmo dia.
Na sala da liderança do PT, no
subsolo do Senado, cinco senadores do partido receberam em uma reunião secreta
o advogado Luiz Egami e o assessor da presidência da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), Edson Campos. Militantes petistas, eles levavam um recado
de dois próceres presidiários do Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito
Federal: os mensaleiros José Dirceu e Delúbio Soares. A conversa não foi longa
porque os emissários foram direto ao pedido de ajuda: parlamentares do PT
deveriam alardear uma “operação casada” do Ministério Público e de juízes do DF
para transferir os condenados do mensalão para presídios federais.
Em duas edições, VEJA revelou que
os mensaleiros petistas recebem tratamento diferenciado na prisão. As mordomias
de Delúbio, como feijoada no final de semana, já derrubaram dois diretores do
Centro de Progressão Penitenciária (CPP). Dirceu tem direito a podólogo e passa
o dia numa biblioteca do presídio, distante da realidade dos internos da
Papuda. Tanto o ex-tesoureiro do PT quanto Dirceu recebem visitas fora do
horário regulamentar para os demais detentos. A lista de visitantes inclui o
governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), cuja administração monitora o que
acontece no complexo prisional.
Não é difícil imaginar o porque
do temor dos mensaleiros em uma transferência de carceragem. E foi justamente
isso que o advogado Luiz Egami relatou, sem rodeios, aos cinco senadores
petistas: os condenados pelo mensalão temem ser realocados nas unidades
federais de Mossoró (RN), Catanduvas (PR), Campo Grande (MS) e Porto Velho
(RO), locais que abrigam criminosos perigosos – e onde os petistas não seriam
mais tratados com distinção.
Os dois mensageiros sugeriram o
plano de Dirceu e Delúbio: a Comissão de Direitos Humanos e Legislação
Participativa da Casa, comandada pela senadora Ana Rita (PT-ES), deve visitar a
Papuda para negar publicamente a existência de privilégios ou benefícios aos
mensaleiros. Procurada pelo site de VEJA, Ana Rita admitiu que participou da
reunião na liderança do PT. “Se a Comissão de Direitos Humanos for acionada,
sim [pode ir à Papuda], mas isso ainda não ocorreu.”
O líder do PT no Senado, Humberto
Costa (PE), reconheceu o temor pela transferência para presídios federais.
“Eles [os mensaleiros] estão preocupados com a possibilidade de ficar
permanentemente em sistema fechado e ir para uma prisão federal. A definição do
Supremo foi de cumprimento da prisão em regime semiaberto”, disse. “Se em algum
momento houver qualquer coisa que a gente imagine ser um desrespeito ao direito
do preso, na hora que eles quiserem, a gente pode sentar e tomar uma decisão.”
O advogado petista Luiz Egami
também levou mais versões. Dirceu e Delúbio – que já foiadvertido pela Justiça
pelas regalias e teve o direito de trabalhar temporariamentesuspenso até o
benefício ter sido restabelecido nesta quarta – tentaram até emplacar com os
parlamentares uma desculpa para a feijoada: a cantina do presídio vende latas
de costela de porco, que foram misturadas à refeição do dia. Mais: foi tudo um
presente de vizinhos de cela.
Fonte: VEJA- Laryssa Borges.
Quinta-feira, 20 de março, 2014.
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