Desde a Constituição de 1988,
dois deputados foram para na prisão - Natan Donadon e José Genoino -, mas há
processos que se arrastam há quase 30 anos. como uma investigação que envolve o
senador Jader Barbalho
A prisão de condenados do
mensalão chama a atenção para outras 834 ações ou inquéritos contra políticos
que tramitam no Supremo Tribunal Federal. Em 36% dos casos existem indícios
fortes de crimes como lavagem de dinheiro, desvio de recursos, falsidade
ideológica e até homicídio.
Desde a Constituição de 1988,
quando passou a ser foro privilegiado de autoridades, o STF pôs na cadeia dois
deputados com mandato - Natan Donadon, que era filiado ao PMDB de Rondônia,
acusado de desviar dinheiro da Assembleia Legislativa do Estado, e o deputado
licenciado José Genoino (PT-SP).
Os deputados Valdemar Costa Neto
(PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT), que, como Genoino, foram condenados no escândalo
do mensalão, aguardam em casa uma decisão do ministro Joaquim Barbosa, relator
da ação penal e presidente do Supremo.
Os mandados contra Costa Neto e Henry podem
ser expedidos ainda nesta semana.
João Paulo Cunha (PT-SP), o
quarto deputado federal condenado no mensalão, ainda terá um recurso analisado
antes que sua pena seja executada.
Nos últimos anos, outros cinco
deputados em atividade chegaram a receber a pena de prisão por cometerem
irregularidades no exercício de cargos públicos, mas não há previsão em médio
prazo de serem presos - ainda aguardam julgamento dos recursos.
Ou, em boa parte dos casos, já
tiveram as penas prescritas pela demora no julgamento das ações penais.
Um dos processos mais antigos
contra políticos completa 29 anos. Desde 1984, o inquérito para investigar o
senador Jader Barbalho (PMDB-PA) por suposto desvio de recursos do Banpará
passou por diversas instâncias da Justiça.
Há nove anos, o STF considerou
que havia indícios suficientes para tornar Jader um réu, isto é, abrir uma ação
penal. Na época, o inquérito contra ele estava perto de prescrever. A ação
começou a correr, mas a defesa do senador conseguiu protelar uma decisão final
sobre o caso. Jader ainda responde a dois inquéritos (investigação) e a outras
cinco ações (acusação formal).
"Na minha opinião, os
inquéritos e as ações não vão dar em nada", afirma o advogado José Eduardo
Alckmin, que defende o parlamentar. "As acusações não têm consistência. Há
deduções absurdas, sem provas."
No Senado, 28 parlamentares são
investigados no Supremo. A lista inclui praticamente toda a Mesa Diretora da
Casa.
DEPUTADOS.
Um dos deputados com mais investigações no
STF, Abelardo Camarinha (PSB-SP), três vezes prefeito de Marília, enfrenta
quatro ações penais e sete inquéritos, a maioria por calúnia e injúria. No ano
passado, ele foi condenado por uso indevido de dinheiro público durante mandato
de prefeito. A pena de prisão de quatro meses foi substituída por multa de R$
40 mil. Não precisou fazer o depósito porque a pena prescreveu. Ao contrário do
que pregam muitos, Camarinha afirma que o foro privilegiado para parlamentares
é um "engodo" e reclama que as autoridades não podem recorrer de
decisões do STF. Por isso, diz preferir ser julgado pela primeira instância.
"Se meus processos fossem para o Tribunal de Justiça, eu poderia recorrer
ao STJ."
Há dois anos, o Supremo condenou
o deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA) a três anos, um mês e dez dias de prisão
por trocar cirurgias de laqueadura por votos, durante campanha a prefeito de
Marabá (PA) em 2004. A execução da pena nunca saiu. O mesmo ocorreu com o
ex-deputado José Fuscaldi Cesílio, o Tatico, do PTB de Goiás. Em 2010, ele foi condenado
a sete anos de prisão por não fazer a contribuição previdenciária de
funcionários do curtume da família. A defesa de Tatico entrou com embargo
declaratório. Joaquim Barbosa chegou a pedir, neste ano, a prisão imediata de
Tatico, que não está mais na Câmara, mas continua solto.
Em 2004, o ex-senador e hoje
deputado Sebastião Rocha (PDT-AP) apareceu na TV algemado e escoltado por
agentes da Polícia Federal. A Operação Pororoca apontou Rocha como participante
de um esquema que teria desviado R$ 103 milhões de recursos federais no Amapá.
Quando Rocha assumiu a cadeira na Câmara em 2009, o processo contra ele subiu
para o STF. "Agora, no caso do mensalão, o PT reclama da exposição dos
seus condenados. Mas foi o Márcio Thomaz Bastos, na época ministro da Justiça,
que mandou a Polícia Federal me algemar. Foi o PT quem inventou essa história
de algemas para expor as pessoas no Brasil."
Leonencio Nossa e Mariângela Gallucci - O Estado de S.Paulo
Terça-feira, 26 de novembro de 2013.
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