Aos 33 anos, Renata Bueno,
natural de Brasília mas radicada em Curitiba, foi a primeira brasileira nata a
ser eleita para o Parlamento da Itália. A deputada, que também tem cidadania
italiana, recebeu 20 mil votos nominais dos italianos que vivem na América do
Sul - mais de 1 milhão e 460 mil, de acordo com o Istat, equivalente do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Itália. A maior parte
do votos, claro, veio dos italianos que vivem no Brasil, aproximadamente 252
mil.
Desde início de seu mandato, em 7
de março, Renata apresentou dois projetos de lei, um na área do reconhecimento
da cidadania italiana e outro para ratificar e executar um tratado assinado em
2008 entre Brasil e Itália sobre o transferência de pessoas condenadas.
Neste contexto, em recente
entrevista ao portal italianoFormiche.net, Renata comentou o caso de Cesare
Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália por diversos assassinatos
durante os Anos de Chumbo. “Faz cinco anos que Cesare Battisti virou uma lenda
no Brasil. O governo brasileiro errou desde o início ao não autorizar a sua
extradição à Itália. A Itália tinha todo o direito de pedir que Battisti
voltasse ao país para realizar um processo adequado. Não se entende por que o
governo brasileiro não autorizou.”
A deputada ocupa a cadeira 647,
que está posicionada ao centro do Parlamento, de onde pode acompanhar com maior
precisão os votos e os debates, uma vez que sofre de uma patologia genética
grave nas retinas que compromete a visão de longe e com pouca luz. Na Câmara
dos Deputados, Renata faz parte de duas comissões: Comissão Parlamentar para a
Infância e a Adolescência e Terceira Comissão de Relações Internacionais e
Comunitárias.
“Temos todo um processo de
internacionalização da Itália. Muitos investidores italianos estão querendo ir
para fora, e têm o Brasil como um dos principais destinos pela grande
atratividade que o País oferece para o mercado. Nossa bandeira está voltada
para a internacionalização da Itália e, naturalmente, não posso deixar de lado
no Parlamento a questão dos Direitos Humanos – que é a minha formação – e que é
um direito que não tem fronteiras”, explicou, durante entrevista exclusiva ao
Terra.
A questão eleitoral na Itália é,
por natureza, difícil de entender. Para quem está acostumado com o “voto
direto” do presidencialismo de coalizão do Brasil, tudo fica ainda mais
complicado. O sistema de governo na Itália é o parlamentarismo. Pela
Constituição, os cidadãos têm o dever de votar, entretanto, para quem não vota,
as sanções nem sempre são aplicadas. Além da figura do Primeiro Ministro,
nomeadamente Presidente do Conselho dos Ministros (Enrico Letta), existe também
o Presidente da República Italiana, atualmente Giorgio Napolitano, que é
escolhido pelo Parlamento, ou seja, a Câmara dos Deputados e o Senado. Pela
lei, o mandato de um deputado é de cinco anos, mais isso não é garantia de que
seja exercido até o final.
“Corremos o risco permanente de o
governo não funcionar e do Parlamento ser dissolvido com consequente convocação
de novas eleições. Isso é muito comum num sistema parlamentarista. Então, o
mandato é de cinco anos, mas não se sabe realmente quanto tempo vai durar”,
enfatiza Renata.
De vereadora em Curitiba à
deputada e doutoranda em Direito em Roma. Uma estrada política nova a ser
desbravada por Renata Bueno, que ainda não se aliou a nenhum partido italiano,
apesar de muito cortejada pela centro-esquerda do primeiro ministro Letta,
encabeçada pelo Partido Democrático, como também pela centro-direita, cuja
referência, apesar dos incontáveis escândalos, continua a ser Silvio
Berlusconi.
E foi justamente durante um dos
mandatos de Berlusconi como premiê que os italianos que vivem nos exterior
puderam exercer o direito de votar fora da Itália, por meio da lei “Tremaglia”,
promulgada em 2001, que entrou em vigor nas eleições de 2006. A lei prevê que no exterior sejam eleitos 12
deputados e 6 senadores. Para Renata, o maior desafio de seu mandato é unificar
propostas que atendam interesses comuns aos países da América do Sul, Brasil e
Itália.
“É um trabalho bastante vasto.
Temos que dar conta não só de um Brasil inteiro - que já é um continente - mas
dos países da América do Sul e, ao mesmo tempo, olhar pela Itália. Parece
complicado, todavia penso que hoje se faça política de uma maneira global e sem
fronteiras. Isso é um grande avanço para o sistema político”, conclui a deputada.
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